segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Conta comigo

Conta comigo. O que deveria soar azul, fez calos nos meus ouvidos. E mal sabia ele que eu tenho pavor dessa palavra.

É de praxe e chega até ser clichê em relacionamentos amorosos, amizades e por simples uso do dia-a-dia, oferecermos um 'apoio' ou um ombro amigo através do 'conta comigo'. Pra fazer uso de tanta camaradagem, eu aceito, por favor. Mas não com você.. Nem de longe eu quero uma mãozinha sua, nem o dedinho do seu pé.

Ao sair da nossa casa e acordar da nossa cama você, como nunca foi de costume, levantou mais cedo do que eu, e pior, dessa vez você não tinha me roubado toda a coberta e nem jogado os pés em cima de mim. Eu dormi como da primeira vez que nos conhecemos ( de todos sentidos,ângulos) e aquilo estava estranho. Fui até a pia do banheiro e não havia toda aquela bagunça tua que reinou durante anos, antes mesmo de você se mudar para cá. Estava tudo esquisitamente arrumado. Desci sem escovar os dentes. Olhei pra você ( o que houve com voce?), a pressa franzia em sua testa. Logo você! A pessoa mais sem cobranças e horas marcadas que existe. E me deixou tomando café sozinha. Mesmo sendo uma de nossas paixões, tirando a praia e falar besteiras. Naquela manhã eu me lembrei que o meu amor fora crescendo naquilo que eu pensava odiar: Roubar meu cobertor, ri do meu nariz, tomar tanto café, infernizar meu banheiro, usar a minha toalha, jogar os pés em cima de mim... Foi a primeira manhã sem você, e eu precisava aprender a lidar com isso.

No meu caminho de volta, de volta para uma escova de dente, uma toalha, comer e falar sozinha, ter de aturar quando uma lâmpada queima ou o pneu do carro fura e não ter absolutamente ninguém que me socorra, de volta pra minha cama gigante repleta de travesseiros, almofadas.. e espaço. No caminho de volta para uma vida que eu não usava havia tanto tempo, estava perdida e completamente tonta. Meu banheiro estava uma zona e eu insistia em acordar sem o cacete da coberta, o que me garantiu além da solidão, um resfriado. Nessa avenida sem nome que eu fora entrando de cabeça, meu telefone toca. Era você. Um número desconhecido, me disse ao fim de tantas lágrimas e desencontros: Conta comigo.

Impossível. Quando eu levar um pé na bunda do primeiro idiota que resolver transar para te esquecer, quando eu me afogar na primeira garrafa que estiver na minha frente, quando você já se esquecer do som da minha voz.. não restará nem telefonemas ou abraços. Não dá pra contar com você. Não me liga, não me abraçe, não sinta minha falta.. Nunca mais sinta! Não fique bêbado com o celular ao lado, me ligando a qualque hora pra te buscar porque ainda me ama. Não diga que me ama. Não me procure. Não atenda o celular. Não vá mais a NOSSA praia, não use a NOSSA cama, não tome café. Não me esqueça.

Um comentário:

  1. Uma amiga minha me mandou o seu blog há um tempo atrás. Ouvindo alguns discos do Yann Tiersen, lembrei desse texto e faço questão de ler sempre. Não sei bem o motivo, mas me faz bem ler isso. Posso até dizer que tenho ele de cór. rs
    Sempre que escrever, vou estar lendo e lendo, e assim, lendo.

    Fernanda Mathieu.

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